HELENA, TIA QUERIDA
Tu tens sido homenageada como a professora, a política
e a feminista que foste antes mesmo de o termo ter se popularizado, mas aqui
queremos te reverenciar como a nossa tia.
Teu carinho, dedicação e influência estão presentes na
vida de cada uma de nós, da infância aos dias de hoje, embora, já há algum
tempo, tenhas atravessado a ponte para o outro lado da vida.
Na infância, o carinho e a dedicação em brincadeiras,
passeios ou ensinando a desenhar, ampliar figuras ou colorir cadernos próprios
para cada idade. Que delícia! Foste a nossa fada-madrinha nas horas de aperto,
sempre amenizando nossas travessuras. Pena que, no dia em que “fizemos a festa”
com a tua máquina de escrever, tu não chegaste a tempo!
Os passeios contigo estão vivos na nossa memória: o
cinema no Cine Imperial; as peças de teatro onde conhecemos o inesquecível
Paulinho; uma ida à Primeira Quadra para um sorvete e, pelo menos, olhar as
vitrines da Casa Macedo, o sonho de qualquer criança santa-mariense por décadas.
Tu nos levavas ao circo sempre que havia um instalado na cidade. Contigo também
assistíamos, no palanque oficial, aos desfiles militares e da mocidade com suas
inesquecíveis bandas, tão características na cidade lá pela metade do século
passado. Contigo acompanhávamos, até onde era possível, a vida política de
Santa Maria.
Havia, entretanto, um fato que a pouca idade não nos
permitia entender: por que tu eras tão incompreendida pela família? Também não
era claro para nós te vermos quase sempre indiferente a tais críticas e fiel à
tua trajetória.
O tempo foi passando, tu embalaste nossos sonhos
adolescentes e nos incentivavas a buscas pessoais que possibilitassem, no
futuro, sermos mulheres independentes e, como tu, “donas do nosso nariz”. Foi,
nessa fase, que começamos a entender porque tu eras tão criticada pela família
e pela sociedade: simplesmente, por ser uma mulher à frente do seu tempo!
Já adultas, pudemos aquilatar a tua a importância não
apenas nas nossas vidas, mas, sobretudo, a tua contribuição na trajetória de
emancipação da mulher e, consequentemente, para a construção de um mundo
melhor.
Embora te admirando muito, nenhuma de nós seguiu a tua
carreira, mas fizemos política no nosso cotidiano profissional, até mesmo no
período da ditadura. Espelhadas no teu exemplo, fomos para o mercado de
trabalho não como mulheres, mas como profissionais. Com essa postura nunca
fomos discriminadas e, no nosso meio de atuação, sem bandeiras partidárias, de
certa forma, também fomos políticas. Com certeza, de maneira muito modesta,
contribuímos para o atual quadro social em que as barreiras para as mulheres,
cada vez mais, têm sido quebradas. Sabemos que ainda há muito a ser feito, mas
mudanças sociais se fazem um pouco a cada dia!
Todo esse legado que recebemos de ti passamos para
nossos filhos e netos que será repassado, repassado, repassado...
Hoje, 19.11.2021, centenário do teu nascimento,
prestamos nosso tributo de amor e gratidão a ti como tia e mulher que, não
raras vezes, tem orientado nossas posturas tanto na vida privada como na
profissional.
Tia Helena, tu deixaste exemplo e saudade, muita
saudade...
Aliris,
Ana Lúcia e Ana Maria